sexta-feira, 22 de abril de 2011

Por que milhares de centenas de pessoas insistem em viver em condições de moradia extremamente adversas?[1]


A cidade acorda e sai pra trabalhar
Na mesma rotina, no mesmo lugar
Ela então concorda que tem que parar
Ela não discorda que tem que mudar
Mas ela recorda que tem que lutar

Trecho de Conformópolis de Di Mello


No inicio do mês de Abril o departamento de Ciências Sociais da PUC SP promoveu sua aula inaugural de maneira pouco comum entre o meio acadêmico, na ocupação Prestes Maia n° 911, a maior ocupação por moradia digna da América Latina (Veja matéria completa publicada no sitio do CMI).
Dentre as falas de moradores e lideranças dos movimentos presentes (Movimento Sem Teto do Centro - MSTC e da Frente de Luta pela Moradia - FLM) pude perceber como é claro e evidente a seguinte afirmação: “Queremos morar no centro”. “Aqui estou perto do trabalho” ou “aqui tem cinema e teatro, lazer [...]” enfim moradia e acesso à cidade caminham imprescindivelmente juntos.

Deste modo a luta pela moradia digna implica ao mesmo tempo o direito a habitação e a necessidade de mobilidade e do acesso a cidade. Deste modo o centro da cidade se configura como espaço de disputa desde seu inicio e sobretudo ganha maior intensidade a partir do século XIX. Diversas políticas habitacionais e reformas urbanas iram ser criadas, fortalecendo o processo da “periferização” da cidade. Do século XIX até os anos 1940 se produziu uma cidade concentrada em que os diferentes grupos sociais se comprimiam numa área urbana pequena e estavam segregados por tipos de moradias. A segunda reforma urbana, a centro-periferia, dominou o desenvolvimento da cidade doas anos 40 até os anos 80. Nela, diferentes grupos sociais estão separados por grandes distancias [...][2]
Paulatinamente após os anos 50 o centro da cidade irá decrescer econômica e demograficamente. E irá chegar em seu ápice de degradação segundo Lúcio Kowarick nos anos 80. “O centro da cidade abriga 600 mil habitantes em cortiços, 10 mil ambulantes, 2 mil catadores de lixo e cerca de 5 mil moradores de rua [...]. Muitos empreendimentos, cujas matrizes estavam sediadas na Área central, deslocaram-se para as avenidas Paulista e Faria Lima e, mais recentemente, para o eixo Berrini-Marginal do Pinheiros[3] .
Morar no centro da cidade significa reduzir os custos e tempo com transporte. Além de melhores ofertas de emprego, lazer e educação, por serem melhores equipadas em relação as periferias.  Quando a questão da moradia retorna ao centro, o que estamos rememorando é um verdadeiro retorno aos primeiro decênios do século XX, onde com a redução dos chamados cortiços ou casas de cômodo junto a substituição do bonde pelo ônibus e como conseqüência o surgimento de novos bairros, assim como acontecia com os antigos suburbios-estação que beiravam a linha do trem, dentre outras reformas além dos ideários eugênicos, as elites por fim realizam um antigo sonho: a separação em local de trabalho e moradia.



 Alan Fernandes
  



[1] Kowarick em seu livro Viver em Risco (2009)
[2] CALDEIRA, T. P. do R. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo, Ed. 34/ Edusp, 2000. p. 211
[3] KOWARICK, Lúcio. Viver em risco. São Paulo. Ed.34, 2009. p 106

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